O Velho da Morada
Reza a lenda ...
Era uma vez um nobre cavaleiro do castelo de Vila Nova de Ourém que andava a caçar nos vales da Morada. Entrentanto a noite caiu, sem ele se apereceber. O cavaleiro acabou por perder-se nas encruzilhadas, no meio de caminhos serranos, rodeado de carrascos. Avistou uma casinha iluminada por candeias de azeite, no qual viviam membros da minha familia. O nobre bateu à porta, e pediu ao velho, dono da casa, para passar ali a noite porque andava perdido.
-Sim, respondeu o velho. Mas o nosso lar é tão pobre e tão velho para poder acolher um nobre como o senhor!
-Não faz mal, respondeu o nobre, eu so quero que me recebas como se fosse um amigo teu.
-Bom então entre, e voltou-se para a mulher e disse-lhe que atiçasse mais o lume da lareira e fizesse umas papas de farinha de milho para todos comerem com mel.
O nobre que nunca tinha provado tal pitéu, provou, comeu e por fim ficou satisfeito com aquela ceia. Juntos à lareira, o nobre foi passando o resto da noite a ouvir e a contar historias sobre a vida do campo e da pastoricia.
No dia seguinte, ao despedir-se, o nobre ja em cima do seu cavalo fogoso, combinou o dia em que os inesperados hospitaleiros haviam de ir ao castelo de Vila Nova de Ourem, para serem tão bem recebidos como ele foi ali no misterioso vale de Morada.
O velho camponês apresentou-se no dia previsto, aos guardas do castelo pedindo para o deixarem ir falar com o nobre. Ora como o camponês tinha um carapuço na cabeça, umas botas de cabedal, e umas calças de surrobeco à boca de sino com uma perna por fora da bota e outra por dentro, os guardas não o deixaram entrar.
-Nem pense nisso, o nobre senhor não recebe gente como você!
-Não? Mas vão la dizer que esta aqui o velho do vale da Morada para lhe falar, insistiu ele.
Depois de ter tanto insistido, um guarda resolveu-se a ir, e qual não foi o seu espanto e dos seus colegas quando o nobre mandou entrar aquele homem com aspecto tão rude! E o mais curioso foi que o mandou sentar-se na cadeira mais bonita do castelo, perante os olhares estupefactos de todos os nobres familiares.
Nunca acontecera uma coisa assim. Um camponês feito nobre? Quem seria ele?
Apos ter ficado la uma noite, ter comido bem e ouvido falar das tradições dos nobres de Ourem, o velho regressou ao vale da Morada todo contente, por ter conseguido ser nobre pelo menos uma vez na sua vida, e ter sido recebido num castelo por um nobre real, que também por sua vez e por uma unica noite deixou de o ser, transformando-se apenas num amigo do velho da Morada.
Fernando Pinheiro Martins
- O Portomosense
- O luso Jornal
- Portugal sempre
- Da Pré-Historia à Actualidade : Monografia de Porto de Mos, Volume II, de Fransico Jorge Furriel
- Aldeia da Barrenta, de Fernando Pinheiro Martins
- Site do Municipio de Porto de Mos